Arrogantes, egoístas e ignorantes

Publicado no jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, SP, 09 de outubro de 2025.

O notável pensador e escritor irlandês, Oscar Wilde, morto em 1900, observou com típica
perspicácia que os EUA eram “um país que foi da barbárie à decadência sem passar pela
civilização”. Ele escreveu “O Retrato de Dorian Gray” e “A Alma do Homem sob o Socialismo”.
Nem mesmo o seu gênio pode antever fosse o declínio daquele Estado se acentuar nos
próximos 125 anos e que a distância do humanismo se alargaria. De fato, o país passou do
tráfico de ópio e das guerras de conquista para a posição execrável de destruidor da ordem
jurídica internacional; instigador de crimes de guerra; patrono do racismo e da discriminação,
para além de promotor da miséria global e do genocídio.

Após 2 guerras mundiais no início do século XX, o país se isolou gradativamente da
comunidade internacional e dos valores humanísticos amplamente reconhecidos, ao ponto de
ser o único país a votar contra a paz na Palestina no Conselho de Segurança da ONU. Hoje, a
sustentação diplomática dos EUA é feita, com crescente relutância, por um número restrito de
países na União Europeia, além de Japão e Coréia do Sul. Deles, no entanto, se afasta pelo
irrefreável exercício arbitrário das próprias razões, mesmo contra os seus vassalos,
submetendo-os a sanções tarifárias ilícitas na ordem jurídica internacional.

Na Europa, os EUA são idealizadores e beneficiários da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN), uma aliança militar de 1949, para além de manter cerca de 40 bases suas e 100
mil soldados próprios no continente. A OTAN é hoje anacrônica e objetiva primordialmente
gerar encomendas de armamentos para o complexo industrial e militar estadunidense, o que
gera uma prosperidade artificial e seletiva. A entidade drena para os EUA recursos europeus
que poderiam ser destinados ao benefício social em áreas como saúde, educação e pesquisa.
Desde os tempos de Oscar Wilde, os cidadãos dos EUA passaram gradativamente a se deslocar
para a Europa, trazendo consigo o germe da barbárie; da futilidade; da incultura; do egoísmo;
do materialismo exacerbado; do militarismo; do fanatismo religioso; do racismo; da intolerância; da vaidade; da propaganda e do consumo de drogas.

Já por volta de 1925, um núcleo de jornalistas estadunidenses ali se estabeleceu objetivando vender imagens fúteis e superficiais de sua enganosa percepção para um público doméstico sabidamente néscio,
grosseiro e rude. Um desses foi F. Scott Fitzgerald, frívolo autor de “O Grande Gatsby”, quem
apesar de ter ali vivido por alguns anos, não apreendeu nenhum idioma, sem ter sido um
mestre no seu próprio.

Fitzgerald, todavia, influenciou seus compatriotas a visitarem o Velho Continente, em números
crescentes. A sua indigência mental fez escola e repercute nas tecnologias atuais, como no
seriado “Emily in Paris”, com os mesmos resultados. O perfil destes viajantes foi descrito por
Eugene Burdick e William Lederer no livro “The Ugly American” de 1958, como exibicionistas,
arrogantes, ruidosos, egoístas, insensíveis, ignorantes e etnocêntricos. Por serem aqueles da
sua mesma nacionalidade, os autores foram parcimoniosos com os adjetivos.

Consequentemente, os europeus encontram-se sitiados pelos constrangimentos
orçamentários impostos pelo EUA e, de outro lado, pela funesta invasão dos bárbaros daquela
nacionalidade. Reverberam nas almas europeias os progressivos sentimentos de “Americans
go home”.

DURVAL DE NORONHA GOYOS JR.
Jurista e escritor polígrafo. Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras