Publicado no jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, SP, 07de maio de 2025.
Há 80 anos, em 3 de maio de 1945, as numerosas tropas nazistas alemãs e fascistas
italianas, no teatro de operações da Itália, renderam-se às forças aliadas, dentre as quais
figurou com brio, bravura e brilhantismo o contingente da Força Expedicionária Brasileira
(FEB). Dentre os nossos militares estava o meu tio, sargento Ruy de Noronha Goyos, da
artilharia. Naquela ocasião, o comandante brasileiro, o general Mascarenhas de Moraes
armou, em sua Ordem do Dia: “…com orgulho sem jactância, e confiança sem exageros,
retornamos… para prosseguirmos na faina sagrada de fazer um Brasil forte e respeitado,
num mundo livre e feliz”.
O episódio acima foi por mim relatado no livro “A Campanha da Força Expedicionária
Brasileira pela Libertação da Itália”, publicado em 2013, com edições também em italiano
em inglês. O livro foi um sucesso e representou o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, com
a presença de Luiz Alberto Moniz Bandeira e Umberto Eco, além de uma mensagem de
Romano Prodi. Ele teve dezenas de lançamentos, dentre os quais 2 na Itália: na Embaixada
do Brasil e pela ANPI, na Piazza del Popolo. O livro, pelo qual recebi uma condecoração da Presidência da República, no mandato Dilma Rousseff, integra alguns programas do
Exército brasileiro.
No heroico combate contra o nazifascismo, a FEB percorreu 400 quilômetros no encalço
das formações inimigas, de Lucca a Alexandria, num percurso ao norte para a Toscana, daí
para o leste, na Emília Romagna e, posteriormente para o noroeste, até Alexandria, acima
de Gênova. Naquele sítio, em Fornovo, as forças da FEB, tendo na vanguarda o capitão
Plínio Pitaluga, dos meios mecanizados, isoladamente forçaram a rendição da 148ª Divisão
alemã, comandada pelo general Otto Fetter Pizzo, reforçada pelas forças fascistas da
República de Salò, conduzidas pelo general Mario Carloni.
Na ocasião, a FEB acolheu um contingente de 20.573 combatentes inimigos e 5 mil
viaturas, um número de pessoal equivalente ao total das forças brasileiras naquele teatro
de guerra. Cerca de 1.000 feridos opositores foram tratados por nossos serviços médicos
de campo. Naquele conflito, 33% das tropas alemãs na Itália renderam-se à FEB, que tinha
apenas 5% do contingente aliado. Em seguida, as forças brasileiras avançaram até Turim,
no Piemonte e alcançaram a fronteira de França, do dia 2 de maio de 1945, um dia antes da
rendição inimiga.
A gloriosa Força Aérea Brasileira também teve uma atuação de destaque com o seu Grupo
de Caça, um dos mais ativos, e o Esquadrão de Coligação e Observação. A aeronáutica
brasileira ainda operou na costa do País e no Atlântico Sul, onde lutou com heroísmo e
destaque a nossa Marinha de Guerra. Dezenas de milhares de militares brasileiros
engajaram-se no conflito nestas estratégicas posições. No interior, os trabalhadores do
exército da borracha produziam a mercadoria indispensável para o esforço de guerra
aliado.
As condições do Brasil daqueles tempos eram muito inferiores àquelas dos dias atuais e,
não obstante, nosso povo escreveu um capítulo da História que não pode e não deve ser
esquecido, por tudo o que representa para a consciência nacional, pela definição de nossos
melhores valores humanísticos, e para a comunidade internacional. A faina sagrada pela democracia, sabiamente referida pelo general Mascarenhas de Moraes, não pode cessar jamais.
DURVAL DE NORONHA GOYOS JR., Jurista, professor, historiador e escritor. Escreve
quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras