Sobre o falso e a verdade na antiguidade

Publicado no jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, SP, 10 de setembro de 2025.

A temática da verdade e do falso nos intriga desde a antiguidade. Confúcio foi um sábio
chinês, quem viveu entre 552 a.C. e 479 a.C., cujo pensamento teve uma influência civilizatória
única, a qual se estende até os dias atuais. O seu trabalho filosófico antecedeu aquele grego
por mais de 1 século, ao qual foi considerado superior por Voltaire. Confúcio acreditava que a
justiça social se assentasse na verdade, ao passo que a falsidade corrompia as relações sociais
e conduzia ao conflito e à desordem. O conceito confuciano de YI promovia a verdade
compreendida naquilo que é justo, determinado objetivamente. Ele ensinou, nos Analectos,
que “o homem elevado professa o YI; o diminuto busca o lucro”. Por sua vez, o conceito de XIN
condena a falsidade.

Confucius sujeitava o percurso estratégico de um povo com base na perseguição do princípio
de justiça, visto objetivamente, e compreendido no conceito de YI. Segundo o Mestre, “a
prosperidade substantiva de uma nação não consiste em sua afluência material, mas na busca
da Justiça, expressa nos conceitos de YI e de XIN. Os ensinamentos de Confúcio, de uma
maneira geral e, particularmente, sobre a afluência moral da nação, foram levados adiante por
seu discípulo Mencius (372 a.C. – 289 a.C).

A filosofia grega sobre os temas do falso e do verdadeiro elegeu a contradição respectiva como
um dos seus temas centrais. O seu principal expoente foi Platão (429 a.C.-347 a.C.), quem fazia
daquela dicotomia a questão central do seu pensamento. Ele via como verdadeiro o mundo
das ideias e o real como imperfeito, baseado no subjetivismo e nas opiniões. Em defesa dos
seus princípios, Platão lançou-se numa guerra filosófica contra os sofistas, filósofos
mercenários. O pensamento dos sofistas valia-se do jogo de palavras para promover a
falsidade.

A ação dos sofistas, “profissionais da difamação” foi tida por Aristóteles (384 a.C – 322 a.C.),
discípulo de Platão, como um mero exercício verbal que visava uma vitória imoral dos
interesses pessoais, abandonando-se os melhores valores pela imoralidade, como inimigos da
verdade. Segundo ele, os sofistas não se ocupavam da realidade, mas sim da versão
expediente para os seus fins escusos. Para grande poeta greto, Aristófanes, em ‘As Nuvens’, os
sofistas eram mestres no pior discurso, usado para contradizer a melhor razão. O poeta os via
como “canalhas, cínicos, hipócritas e capciosos”. Na filosofia, a hipocrisia é vista como uma
modalidade de mentira.

São Tomás de Aquino OP (1225-1274) foi um dos mais destacados doutores da Igreja, quem
desenvolveu o pensamento de Platão e Aristóteles no tratamento da verdade e do falso sob a
perspectiva cristã. São Tomás via a verdade como adequação da coisa e do intelecto, princípio
segundo o qual não se pode escapar da realidade na aferição da verdade, ainda que vista
subjetivamente. Assim, ele toma em conjunto os elementos objetivo e subjetivo para a
definição da verdade, ao invés de uma situação de contradição, debate que se prolonga até os
dias atuais, exacerbado pelos desenvolvimentos tecnológicos e dos veículos da Internet.

DURVAL DE NORONHA GOYOS JR.
Escritor polígrafo. Estudou filosofia com os professores Edoardo Guerin, Elaine Munia, Franco
Montoro e Frei Paulo E. Rezende OP. Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras