Discurso proferido em 20 de setembro de 2017, na sede social da UBE, por ocasião de sessão solene.
É com muito orgulho que abro esta sessão solene da União Brasileira de Escritores (UBE), na qualidade de seu presidente, para honrar um dos membros históricos de nossa entidade, importante dirigente e inspirador de gerações de escritores brasileiros, pelos seus atributos políticos, morais, sociais e literários.
Faleceu no dia 17.07.2017 o escritor, contista, historiador e crítico cearense, Caio Porfírio de Castro Carneiro, aos 89 anos, tendo sido secretário administrativo da União Brasileira de Escritore por mais de 40 anos. Caio Porfírio é autor de, ao menos 26 obras, a partir de 1961, dentre as quais se destacam o romance “O Sal da Terra” e os livros de contos “Os Meninos” e “O Agreste e O Casarão”, que serão objeto de análises pelos conferencistas que me seguirão.
Estão aqui presentes, nos auditórios de nossa sede social, para esta merecida homenagem, e falarão a seguir, as escritoras Rosani Abou Adal e Maria de Lourdes Alba, bem como o vice-presidente da UBE, escritor Ricardo Ramos Filho. A palavra ficará posteriormente facultada ainda a quem mais quiser dela fazer uso em homenagem ao grande escritor brasileiro recentemente falecido, ou ainda para ler um de seus poemas.
Dentre as obras de Caio Porfírio, conta-se também uma história da União Brasileira de Escritores, denominada “A Vocação Nacional da UBE”, escrita em parceria com o advogado e escritor catanduvense, João Batista Sayeg, que registra os primeiros 62 anos da entidade, incluindo participações em congressos, efemérides e verbetes dos escritores afiliados no ano de sua publicação, 2004.
Na obra “Vocação Nacional”, Caio Porfírio deixou marcada a incansável luta da UBE pelas liberdades democráticas e pelo estado de Direito, desde o seus primórdios, com a Carta dos Escritores, que assinalava “acreditamos ser condição para a realização desse objetivo (um Brasil engrandecido) a defesa das liberdades democráticas e da livre manifestação do pensamento em todas suas formas de expressão, garantias por sua vez da própria dignidade humana contra preconceitos de língua, raça, nacionalidade e ideologias.”
Caio Porfírio lembra ainda, na mesma obra, como no ano de 1961 a entidade ergueu-se, por ocasião da tentativa de um golpe de Estado, em defesa da ordem constitucional com um trabalho que afirmou: “os escritores de São Paulo… unem-se em torno do princípio da intangibilidade das franquias constitucionais, contra o estado de sítio e as leis de exceção com que ora nos ameaçam.”
Mais adiante, ainda em “A Vocação”, Caio Porfírio retrata a posição da UBE em 1968, às vésperas da edição do infame Ato Institucional no. 5, de triste memória, em documento com a seguinte assertiva: “Assim, firmando sua posição, a União Brasileira de Escritores denuncia mais uma vez o desrespeito às normas democráticas como fator mais importante dos descontentamentos e agitações que conturbam a vida da nação. Só a união de todos os brasileiros, a anistia aos que se encontram marginalizados da vida política, o pleno exercício da democracia, trarão à família brasileira e garantirão a ordem de que necessita para crescer”.
Em seguida, ainda na referida obra sob comento, Caio Porfírio lembra como, em 1980, a UBE repudiou o terrorismo cultural instalado pela ditadura militar e caracterizado pela prática institucionalizada da censura e pediu a plena redemocratização do País. O renomado escritor ressaltou ainda o Manifesto à Nação em Favor das Eleições Diretas, divulgado em 1984. Em 1988, Caio Porfírio registra a participação da UBE na Assembleia Geral Constituinte, que abriu os caminhos para a redemocratização do País, com a Constituição de 1989.
Em nossa segunda gestão à frente da UBE, tenho satisfação em ter dado seguimento às tradições da UBE tão bem representadas, defendidas e retratadas por Caio Porfírio. De fato, nos últimos 3 anos a UBE já se pronunciou formalmente pelos direitos humanos, pela conciliação nacional, pelo estado de Direito, pela tolerância à diversidade sexual, pela liberdade de expressão, contra a tortura, pela educação pública, pela afirmação da língua portuguesa, em favor dos jornalistas processados no Paraná, em repúdio à cultura do estupro, pela educação pública e em repúdio à censura da mostra Queermuseu.
Pessoalmente, lembro-me com muito carinho e admiração por Caio Porfírio, um homem inteligente, educado e afável, com quem convivi nas reuniões de diretoria da UBE e que deixa muitas saudades em mim e naqueles que tiveram a boa ventura de conhecê-lo. A sua dedicação à UBE e aos seus ideais históricos constitui-se num exemplo a ser seguido por todos nós.
Caio Porfírio de Castro Carneiro *01.07.1928 + 17.07.2017