Falecimento de uma mãe, 16 de abril de 2015, São Carlos, SP, Brasil.
OBITUÁRIO DE MARIA VERGINIA SABELLA, MINHA MÃE.
Por Durval de Noronha Goyos Jr.
Faleceu hoje, 16 de abril de 2015, na cidade de São Carlos, São Paulo, Brasil, minha mãe, Maria Verginia Sabella, aos 88 anos, nos braços de meu irmão, Antônio Celso de Noronha Goyos, enquanto eu me encontrava a trabalho na cidade de Londres, Reino Unido, a caminho da República Popular na China.
Descendente de troncos milenares italianos, os Sabella, dos quais existe uma lápide sepulcral anterior a Cristo, no museu de Campobasso, no Molise, Maria Vergínia era filha de Alberto e Jamile Gabriella Sabella. Alberto Sabella foi um alfaiate de grande competência, com quem Maria Verginia aprendeu o ofício de estilista e costura.
Aprendeu também com o pai a tocar o violino e o acordeon, o que fazia com extraordinária habilidade. Casou-se com meu pai, Durval de Noronha Goyos, cirurgião dentista, ainda menina, com apenas 16 anos de idade, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Tinha uma beleza extraordinária típica das mulheres do sul da Itália. Eu a considerava mais bonita que a Sofia Loren e muito mais bela que a Gina Lollobrigida.
Como é natural, quis minha mãe se casar na Igreja e uma festa. Meu pai não queria uma recepção, pois eram tempos difíceis com o Brasil em guerra e seu irmão na Itália, como integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Tampouco queria casar na Igreja, anticlerical que era. O compromisso foi intermediado pelo meu avô: “festa soltanto con Togliatti a Roma, ma matrimonio in chiesa ci vuole”.
Deixou Maria Verginia de estudar ao se casar, mas abriu sua oficina de corte e costura, que cresceu e prosperou. Desenhava magistralmente seus modelos. Assinava as principais revistas de modas da Itália, da França e da Alemanha. Tornou-se uma estilista de alta-costura, com grande sucesso. Empregava de três a dez auxiliares, dependendo das circunstâncias, e trabalhava longas horas, sem se queixar, às vezes 7 dias por semana. Sabia cozinhar muito bem, mas quase não tinha tempo para tanto.
Quando meu pai teve um acidente vascular, por volta de 1963, e ficou temporariamente incapacitado, Maria Verginia sustentou a casa e a família com o seu trabalho. Sem tempo disponível para acompanhar os estudos dos filhos, pagou preceptoras para acompanhá-los nos estudos e mais aulas particulares de inglês e de alemão. Deve também ter pago o curso de pós-graduação universitário, que fiz sobre cultura e civilização italiana com 14 anos de idade, na antiga Faculdade de Filosofia de São José do Rio Preto (FAFI), hoje UNESP.
Com seus vencimentos de modista, complementou minha bolsa de estudos secundários nos Estados Unidos da América, já que eu recebia apenas 4 dólares mensais. Tomou um empréstimo em seu nome junto ao Banco do Brasil para apoiar meu curso de pós-graduação no Hastings College of the Law, Universidade da Califórnia, em São Francisco.
Ensinou a meu irmão e a mim o respeito mútuo e a grande importância do amor fraternal, sentimentos que nos acompanharam por toda a vida.
Divorciou-se de nosso pai, mas continuou a conviver com os filhos em idade adulta e chegou a costurar para as três netas, Anita, Gabriela, minhas filhas, e para a Laura, filha de meu irmão. Sua velhice foi difícil e sofrida, com uma tanto lenta como cruel deterioração física e mental, mas tocou seu violino quase até o final.
Hoje, distante em Londres, ouço os doces acordes de seu violino se despedindo da vida para entrar na Eternidade.
Maria Verginia Sabella (26.02.1927/16.04.2015)