Publicado na versão eletrônica no sítio do JB On Line (http:\\www.jbonline.com.br), bem como na versão impressa no Jornal do Brasil, caderno Economia & Negócios, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 18 de julho de 2010.
Os indicadores macroeconômicos brasileiros publicados com referência ao semestre findo em 30 de junho de 2010 indicam uma sensível piora. Para começar, a balança comercial do país teve o pior resultado semestral em oito anos, com um aumento expressivo das importações de cerca de 44% na primeira metade de 2010, face ao mesmo período de 2009. Com isso, o saldo comercial do semestre ficou em apenas US$ 7.9 bilhões.
Da mesma forma, os IEDs (investimentos diretos estrangeiros) no Brasil, que têm o caráter produtivo, no período de janeiro a maio deste ano, ficaram em cerca de US$ 10,5 bilhões, enquanto que os investimentos brasileiros no exterior, para o mesmo período, ficaram em US$ 11,2 bilhões. O Banco Central do Brasil projetou dias atrás para 2010 uma queda de 15% dos IEDs no Brasil, de US$ 45 bilhões para US$ 38 bilhões.
Como conseqüência, agrava-se a situação do déficit do balanço de pagamentos do Brasil, que deverá ficar em US$ 49 bilhões, conforme projeções recentes do Banco Central. Esse déficit demonstra uma maior vulnerabilidade das contas brasileiras, se bem que a situação hoje é bem melhor que no passado, pois ele representa apenas 2,5% do Produto Interno Bruto do País. De mais a mais, o Brasil tem hoje reservas externas de US$ 250 bilhões, o que não ocorria em épocas anteriores.
No entanto, a situação torna-se insustentável a médio e longo prazo, o que deve servir de alerta para o próximo governo brasileiro. A persistir tal situação, as reservas externas brasileiras poderão ser substancialmente reduzidas em 2011 ou mesmo chegar a patamares mínimos, o que trará vulnerabilidades sérias.
A deterioração do quadro pode, sem dúvidas, ser atribuída à política monetária brasileira, consistente desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso até os dias atuais, que mantém o Real supervalorizado em até 40% face às moedas dos principais parceiros econômicos do Brasil.
Essa política foi desenvolvida muitos anos atrás com o propósito de baratear as importações e assim controlar a inflação. Trata-se de um remédio tanto anódino quanto fatal em seus efeitos colaterais. Inflação controla-se com racionalização dos gastos públicos, missão impossível para sucessivos governos brasileiros.
A sobrevalorização do Real em até 40% representa um subsídio insano dado pelo Brasil aos exportadores estrangeiros. Os efeitos dessa política trazem não apenas a perda de competitividade das exportações brasileiras, mas representam um incentivo às importações. Assim, estimula-se a desindustrialização no Brasil ao mesmo tempo em que se incentivam os investimentos brasileiros no exterior para prover o próprio mercado brasileiro.
Ao desajuste da política monetária brasileira devem-se somar os ônus tributários, sem paralelo no mundo, como também os custos financeiros, devido ao viés das taxas de juros elevadas. Essas taxas acabam por atrair o ópio dos capitais especulativos ao Brasil, que se tornam gradativamente indispensáveis para o fechamento do balanço de pagamentos.
Enquanto nossas indústrias migram para o exterior, a maré das importações compromete nossa limitada infra-estrutura de comércio exterior, como portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, sufocando o normal funcionamento de nossa economia de exportação.
Mesmo os EUA, que têm uma moeda reserva, descobriram duramente que o país não pode viver apenas de importações. Quando acordaremos?