Texto sobre a comemoração dos 40 anos de Noronha Advogados, São Paulo, 01 de junho de 2018.
Foi há quarenta anos, no dia 1º de junho de 1978 que, em quatro recém- formados, fundamos a sociedade de prestação de serviços legais, Noronha Advogados. Na época, eram poucas as sociedades do gênero. Predominavam os advogados chamados “clínicos-gerais”, que faziam um pouco de tudo, principalmente na área cível ou criminal. Havia também uns poucos criminalistas e, em menor número, os comercialistas, dentre os quais os falencistas. Eram tempos difíceis para a advocacia. Vivíamos nos anos sombrios da ditadura militar e, portanto, não vigorava o estado de Direito. Na economia, cerca de setenta por cento do Produto Interno Bruto era representado pela participação do Estado na economia, um número semelhante ao que ocorria na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Eram poucos os advogados dedicados a atender os clientes estrangeiros, de acordo com o direito brasileiro, dentre os quais se destacavam J.M. Pinheiro Neto, Demarest e Almeida, José Eduardo Monteiro de Barros e Renato Freire, Moura e Teixeira, em São Paulo; e Gouveia Vieira e José Luiz Bulhões Pedreira, no Rio de Janeiro. Todos tinham excelente nomeada e procuravam implantar, dentre nós, os métodos de trabalho dos grandes escritórios ingleses e americanos, com cobrança por tempo dispendido e rígida disciplina profissional, algo que escapava à nossa tradição. Não havia advogados brasileiros assistindo clientes de nosso país em legislação estrangeira.
Nós de Noronha Advogados almejávamos entrar neste clube restrito. As dificuldades eram muitas, pelas restrições democráticas, pela economia estreita e clientelista, com o País sem acesso aos mercados financeiros voluntários internacionais, e pela competição acirrada. Éramos quatro jovens: eu era o mais antigo advogado de nosso grupo; tinha 27 anos. O José Maurício Machado havia se formado um ano depois de mim; o Antônio Carlos de Moraes Salles, dois anos após, e o José Paulo Lago Alves Pequeno, três anos. Coerentes com nossas convicções, não queríamos trabalhar para as empresas estatais brasileiras, geridas por um governo ditatorial. Isso reduziu ainda mais nosso campo de atuação e tornou o desafio ainda mais difícil. “Loucura”, disseram muitos.
Tínhamos, os sócios de Noronha Advogados, uma reserva financeira pertinente a três meses de despesas e um grande temor que nossa embarcação fosse naufragar logo após o seu lançamento. Felizmente, não foi assim. Decidimos atuar na área então inexplorada do direito internacional, bem como nos setores pouco frequentados dos negócios societários, bancários e do mercado de capitais. Nosso único escritório era em São Paulo. Trabalhamos duro e tivemos sucesso. Posteriormente, nas décadas de 80 e 90, abrimos dependências regionais no Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Manaus, Recife, Porto Alegre e Campo Grande.
Em 1982, Noronha Advogados abriu o primeiro escritório próprio, e não representação, no Estado da Florida, Estados Unidos da América (EUA). Fomos ali o primeiro escritório estrangeiro, conforme lembra um artigo de jornal contemporâneo. Em 1985, abrimos nosso escritório de Londres, Reino Unido. Fomos o primeiro escritório latino-americano e o único brasileiro por mais de 30 anos. Nossos sócios foram os primeiros brasileiros a se qualificar como solicitors, naquele país, algo raríssimo até os dias atuais. Em 1988, abrimos nosso escritório de Lisboa, Portugal. Nossos sócios ali também se qualificaram. Em 1989, abrimos nosso escritório em Buenos Aires, Argentina. Em 2001, fomos o primeiro escritório latino a receber autorização do governo da República Popular da China, para abertura em Xangai, o que fizemos no mesmo ano. Posteriormente, expandimos nossas operações para Hong-Kong e Beijing. Estes escritórios ainda estão em funcionamento. “Loucura”, disseram muitos.
Escritórios foram abertos por Noronha Advogados e, posteriormente, fechados, por um motivo ou por outro, em Los Angeles, EUA; Nova Delhi, Índia; Johanesburgo, África do Sul; e Zurique, Suíça, locais todos onde fomos o primeiro e único escritório brasileiro e latino-americano. Durante estes anos todos, tivemos ou ainda temos, para além de advogados brasileiros, como é natural, advogados estadunidenses; ingleses; chineses; portugueses; argentinos;; sul-africanos; indianos; italianos; alemães; cubanos; mexicanos; hondurenhos, dentre outras nacionalidades. Atendemos nossos clientes no direito de todos estes países, diretamente e, de outros, mediante correspondentes.
Noronha Advogados teve o primeiro programa de educação continuada de um escritório de advocacia no Brasil. O primeiro jornal impresso por um escritório de advogados, O Observador Legal. A primeira editora jurídica de um escritório, a Observador Legal Editora. O primeiro sítio de fornecimento eletrônico de serviços jurídicos. Desenvolvemos internamente um sistema de comunicação por computadores entre nossos escritórios do Brasil e do exterior, antes da Internet. Tivemos a primeira conta fiduciária auditada, para proteção de nossos clientes. Uniformizamos nosso código deontológico interno, de acordo com os critérios mais rígidos de direito comparado. Fomos pioneiros em diversas área do direito. Treinamos milhares de advogados, em todo o mundo, que seguiram seus caminhos na profissão, dentro ou fora de nossa organização.
Durante todos estes anos, Noronha Advogados manteve altíssimos padrões profissionais, o que nos granjeou a admiração e o respeito em todos os países onde estamos. Nossa missão foi sempre a de bem atender nossos clientes, de acordo com os melhores padrões éticos e profissionais. Não teríamos tido o nosso sucesso sem a colaboração de todos aqueles que colaboram ou estiveram conosco, num momento ou outro. A eles, expressamos o nosso muito obrigado. Temos orgulho destas realizações e convidamos os nossos colaboradores, clientes, amigos e fornecedores a celebrar conosco esta efeméride notável: os quarenta anos de Noronha Advogados.
São Paulo, 1º de junho de 2018.