Publicado na Coluna Semanal do Dr. Noronha a convite do sítio “Última Instância – Revista Jurídica”, São Paulo, Brasil, 21 de abril de 2010.
Nantong – Na ocasião em que o governo chinês sofre intensas pressões dos Estados Unidos para valorizar sua moeda, o Yuan, de maneira a fazer suas exportações menos competitivas, as estatísticas oficiais do comércio exterior da República Popular da China para o mês de março de 2010 apontam um déficit de US$ 7,2 bilhões. As exportações do país, no montante de US$ 112 bilhões no referido mês, cresceram 24% em bases anuais, comparativamente a março de 2009, enquanto as importações de US$ 119 bilhões no mês representaram um crescimento de 66% comparativamente ao mesmo patamar.
Observadores e especialistas no comércio exterior opinam que o déficit mensal é devido a fatores sazonais apenas e que a balança comercial chinesa deverá manter-se superavitária no final de 2010. Assim, deverá continuar a pressão para a valorização da moeda chinesa, da parte não apenas dos EUA, mas de diversos países que sustentam déficits com a China, inclusive o Brasil.
Da mesma maneira, as reservas internacionais da China cresceram, no final do mês de março de 2010, num ritmo mais lento que no ano passado. De fato, no final de março as reservas do país cresceram US$ 48 bilhões para atingir um montante total de US$ 2,45 trilhões. Há um ano, elas haviam crescido um valor de US$ 126 bilhões.
Todavia, hoje há quem se preocupe, na China, com a política de geração de superávits comerciais e de contas correntes e sua respectiva aplicação em títulos do tesouro americano, sabidamente de baixa qualidade. Para muitos, essa é uma transferência indevida de riquezas para os EUA. Mais ainda, teme-se muito corretamente que, quando o país necessitar utilizar tais reservas, elas não estejam mais disponíveis ou tenham perdido o seu valor.
Para tais analistas, a China é a maior vítima do sistema monetário internacional formatado após o Acordo de Bretton Woods e com base no dólar americano como moeda reserva. Sob esse sistema, tudo depende da substância monetária dos EUA, hoje inexistente, ou mais provavelmente da capacidade de impressão de moeda pelo governo americano, o que apenas aumenta a situação crítica do dólar americano.
Indaga-se como então fazer para sustentar o admirável crescimento econômico do país, nos dias de hoje e segundo as últimas estatísticas, já na base de 11.9%? A China ainda tem centenas de milhões de cidadãos à espera de ingressar na economia formal do país, os quais observam com uma ansiedade a duro custo contida, os avanços e o progresso obtido principalmente na região leste do país.
Os governantes chineses sabem que grande parte da solução para o enorme desafio depende de uma reforma do sistema internacional monetário, financeiro, comercial e político do pós-guerra, um jogo de cartas marcadas para favorecer os EUA e seus principais clientes. Dessa premissa decorre o entendimento havido na reunião de cúpula dos BRICs havida em Brasília, na semana passada.
Note-se também que a consecução da tarefa de inserção econômica de tais largos contingentes populacionais na economia moderna do leste do país igualmente depende da manutenção do equilíbrio da política monetária chinesa, com baixa taxa de inflação e com uma atividade produtiva que tenha um impacto positivo na política de criação de postos de trabalho.
É dura a missão dos governantes chineses!