Publicado na Coluna Semanal do Dr. Noronha a convite do sítio “Última Instância – Revista Jurídica”, São Paulo, Brasil, 04 de agosto de 2010.
O presidente dos EUA (Estados Unidos da América), Barack Obama, anunciou no dia 2 de agosto de 2010 o final da ocupação militar do Iraque para dezembro de 2011, quando as últimas unidades dos cerca de 50 mil soldados hoje remanescentes deverão ser repatriadas. O número total de tropas estadunidense chegou ao número de 144 mil em janeiro de 2009.
A anunciada retirada deixará o Iraque como terra arrasada, com mais de 100 mil mortes de civis desde o início da guerra ilegal em 2003. A pilhagem sistemática e organizada dos recursos iraquianos levada a efeito pelas tropas da coalizão invasora foi pior do que aquela sob a responsabilidade dos invasores mongóis, em 1258, que destruíram Bagdá, então um dos principais centros universais.
Inicialmente, a rapina foi organizada pela chamada CPA (Autoridade Provisória da Coalizão) que, através da ordem 39, de 20 de setembro de 2003, permitiu a privatização e entrega de mais de 200 empresas estatais, inclusive nos setores de eletricidade e telecomunicações, a companhias estrangeiras.
Posteriormente, o sistema financeiro iraquiano foi entregue aos oportunistas estrangeiros, juntamente com o setor de petróleo, pelo governo títere. As alíquotas do imposto de renda foram reduzidas de 45% para 15% num paroxismo do neoliberalismo das potências invasoras.
Como seria de se esperar, as condições de vida da população iraquiana são hoje bastantes precárias e a desesperança é a regra. O clima de instabilidade regional é muito preocupante. Largos contingentes de refugiados vivem nos países vizinhos, como na Síria.
Dados provenientes dos EUA dão conta que o custo da guerra para o tesouro do país foi de cerca de US$ 700 bilhões, mas não se pode quantificar precisamente o que se desviou dos recursos do povo iraquiano para agentes privados dos países invasores e mesmo os respectivos governos.
Sabe-se, contudo, que foram as empresas componentes do chamado complexo industrial militar que se beneficiaram tanto dos recursos do contribuinte estadunidense como dos lucrativos contratos de rapina das riquezas do Iraque.
Recentemente, o ministério da defesa dos EUA foi acusado formalmente por outra agência governamental do país de não justificar e comprovar gastos no valor total de US$ 8,7 bilhões, que advieram da venda de petróleo e gás iraquianos.
A história da infame guerra do Iraque ainda não teve escrito o seu último capítulo. Com o passar do tempo, os inevitáveis novos acontecimentos políticos na região e o emergir de maiores dados e informações permitirão uma análise que será ainda mais cruel e devastadora a respeito dessa triste página da História.
Talvez então o mundo esteja maduro para a apuração dos muitos crimes de guerra cometidos na ocasião.