O Escritor e a Nação

Mensagem lida pelo Ministro Aldo Rebelo por ocasião da posse da nova diretoria da União Brasileira de Escritores, 28 de março de 2017, São Paulo, Brasil.

A posse da nova diretoria da União Brasileira de Escritores se reveste de grande e particular importância ao permitir a celebração do escritor, do seu ofício – a literatura -, e do seu instrumento de trabalho: a língua nacional.

Faço a saudação inicial aos integrantes da diretoria eleita na figura do presidente reeleito, escritor e advogado Durval Noronha, ilustre brasileiro, defensor das coisas do Brasil e da cultura nacional.
Cumprimento ainda os integrantes do Conselho eleito na pessoa do destacado brasileiro Levi Ferrari, patriota zeloso dos interesses do Brasil.

A língua, para além dos fatores endógenos que determinam sua evolução, é também um fenômeno geopolítico capaz de moldar e construir a identidade das nações, principalmente pela literatura.
Shakespeare para a Inglaterra e a língua inglesa; Dante, que antecipou Garibaldi em alguns séculos na criação da Itália contemporânea; Cervantes, o idioma de Castela e a Espanha moderna; Camões, Portugal e a língua portuguesa; Pushkin na literatura russa, são alguns dos casos em que escritores ultrapassam as fronteiras da cultura e da literatura para forjar a identidade e o sentido de permanência das nacionalidades.

No Brasil, Gonçalves Dias, Castro Alves, José de Alencar e Machado de Assis emanciparam o Brasil em poesia e romance, decretando a maioridade de nossa literatura.
A literatura nacional, aqui compreendida no seu sentido mais amplo de expressão escrita de toda a atividade cultural da nação, constitui espaço decisivo para a construção espiritual da nacionalidade.
Aqui cabe destacar ainda, que nos tempos sombrios que atravessamos, de predomínio de culturas materialmente mais fortes e dotadas de meios superiores de influência sobre as demais culturas, os escritores nacionais como que reafirmam a cada obra editada, senão com a própria existência, a presença da literatura nacional, da cultura nacional e, portanto, da Nação.
Repousa, portanto, nos ombros da UBE, de seus dirigentes e dos escritores brasileiros a dupla responsabilidade; de defender e proteger a literatura nacional, e por esta via, a própria soberania da Pátria.

Que a UBE e os escritores brasileiros renovem na noite de hoje as melhores tradições libertárias e patrióticas de nossos intelectuais. Que a inspiração de Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Graciliano Ramos, Gilberto Freire e tantos outros que iluminaram essa trajetória se faça sempre presente entre nós.”