O homem que aproxima rio-pretenses e chineses

Entrevista concedida ao jornalista Júlio Cezar Garcia, do jornal “Bom Dia Rio Preto” em 10 de janeiro de 2010, Rio Preto, São Paulo.

Por: Júlio Cezar Garcia

O menino que nasceu em Rio Preto em 6 de junho de 1951, estudou no antigo Grupo Escolar Cardeal Leme, fez o ginásio no Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves e fazia natação no Automóvel Clube é hoje um advogado especializado em direito comercial internacional e sócio-fundador de uma das mais conceituadas sociedades de advocacia das Américas, com sede em São Paulo e escritórios em uma dezena de países.

Mas, quando reúne amigos na chácara que mantém em Rio Preto, e onde se refugia entre uma e outra missão internacional, esquece a cozinha internacional que conhece bem e faz seu retorno à infância. Come pastel do Mercadão. O dono da pastelaria São Paulo, Tadao Hatori, é convidado com frequência para fazer pasteis para os amigos do advogado na chácara e em São Paulo.

Assim é Durval Noronha Goyos Jr., o brasileiro que abriu o primeiro escritório de representação comercial de um país latino na China – não apenas latino-americano, mas de língua latina, o que inclui França, Itália, Espanha, Bélgica, Portugal e Romênia.

Apaixonado por Rio Preto, Durval está empenhado em aproximar rio-pretenses e chineses. E conseguiu que o governo chinês declarasse a cidade de Nantong, de 800 mil habitantes urbanos e 8 milhões na zona rural, cidade irmã de Rio Preto. Uma comitiva daqui vai para a China em abril.

Como começou esse trabalho das cidades irmãs?
Durval de Noronha Goyos Jr.Há 13 anos tenho relacionamento com as autoridades da República Popular da China. No início de 2000 assessorei o processo de entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio). Vi as oportunidades que se abririam e tomei a decisão de abrir um escritório lá. Foi o primeiro escritório latino na China. Na época, meus sócios achavam que minha excentricidade tinha ultrapassado os limites da sanidade mental (risos). Mas a iniciativa se mostrou correta e passamos a representar os interesses comerciais chineses na América do Sul. Hoje temos dois escritórios lá, em Xangai e em Beijin.

E depois?
Durval de Noronha – Com apoio da secretária-geral da Unesp, Maria Dalva Pagotto, e do diretor Carlos Roberto Ceron, trouxemos o Instituto Confúcio, que ensina mandarim. Temos quatro professores da China vindo para o câmpus do Ibilce. A Unesp tornou-se nossa grande aliada. As aulas de mandarim no Instituto Confúcio do Ibilce começam em 8 de março. Foi um grande passo para mostrar que mantemos boas relações com a China.

Por que Nantong?
Durval de Noronha Goyos Jr. – Pensamos em uma cidade que tivesse na China a projeção que Rio Preto tem para nós. Conseguimos a cidade de Nantong, que foi designada pelo governo chinês para ser a cidade irmã. Tem 800 mil habitantes, mas o município tem 8 milhões de habitantes. É um importante porto, centro industrial, e também centro agrícola no município. Está entre as 14 principais cidades do leste chinês autorizada a receber investimento estrangeiro. É também centro importante da indústria química, eletrônica e telecomunicações e serviços portuários.
É talvez o principal ponto da China na implementação da nova política ambiental do governo chinês. É um centro turístico, é cidade universitária, com 22 mil estudantes. No leste, depois de Xangai, é a cidade que mais cresce – cresce mais do que Nanjing, a antiga capital.

Quando a comitiva de Rio Preto vai a Nantong?
Durval de Noronha – Em abril. O prefeito demonstrou interesse em fazer a primeira viagem. Será uma missão empresarial, mas a participação do prefeito será importante para apresentar a eles os atrativos que o município oferece a quem queira investir aqui. Conheceremos a cidade, a prefeitura, o porto, as indústrias e as associações de empresários e vamos fazer apresentações sobre Rio Preto. Vamos criar encontros entre empresários, à margem dessas reuniões. E depois dessa vista virão para cá os chineses, em missão empresarial.

O senhor falou da importância da Unesp nesse projeto. Há um professor do Ibilce-Rio Preto, o José Márcio Machad, que já tem trabalho importante na China, não é?
Durval de Noronha – O professor José Márcio foi um achado, porque descobri que ele estava fazendo um trabalho muito importante com a China. Como me interesso pelas relações bilaterais, fui conhecer o trabalho dele no Ibilce e conheci o supercomputador que ele desenvolveu quando os EUA proibiram a venda dos supercomputadores deles para o Brasil. José Márcio passou a orientar doutorandos no mundo todo, e tem um número enorme de doutorandos chineses que ele ainda introduz nas principais publicações científicas às quais ele tem acesso. Nas duas ocasiões em que levei o cônsul-geral Sun Rongmao a Rio Preto, convidei o professor José Márcio para fazer parte do grupo e contar sobre o trabalho dele na China. Foi ótimo para mostrar que a cidade já tinha relações com o país. Ele faz um trabalho extraordinário, com simulações matemáticas para desenvolver equipamentos para a Hidrelétrica Three Gorges, na China, maior do que Itaipu. O José Márcio foi muito importante para o nosso projeto.