Publicado no jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, SP, 11 de setembro de 2024.
O cartel da Internet, apoiado pelos EUA, usa o argumento da liberdade de expressão para fins políticos e econômicos próprios. Para ele, tudo vale para o ganho monetário
Mahatma Ghandi via o imperialismo como um governo de terceiros, por terceiros, em próprio benefício. As manifestações do fenômeno mudaram desde o século 16, mas o seu objetivo persiste, ou seja, a espoliação econômica, financeira e cultural por uma potência, em detrimento de outros Estados. Hoje, o imperialismo se apresenta de forma menos rude, mas não menos cruel, e mais eficaz, do que no passado. Os imperialistas, como os EUA, a Inglaterra e a França, não mais fazem o tráfico de drogas para os próprios ganhos econômicos.
Há agora outros instrumentos rentáveis para a propagação dos cartéis, como a Internet, cuja desinformação busca convencer os oprimidos de que as razões dos opressores devam ser as suas. Tal lavagem cerebral lança mão de um velho artifício imperialista, que é o de desacreditar o povo de uma nação em suas instituições, valores e padrões culturais, face à pretensa superioridade daqueles da potência opressora. Isso permite a narrativa da civilizatória” dos imperialistas, que é o asqueroso eufemismo inglês sobre o de astre colonial por eles imposto.
Por sua vez, a falácia da superioridade cultural objetiva a exportação dos modelos jurídicos imperialistas, um instrumento do colonialismo utilizado no passado. Não há negociações de tratado bilateral, multilateral ou internacional para o qual os imperialistas não procurem determinar os seus valores jurídicos. Um exemplo é o que denominei de “cartel da vergonha”, através o qual os países da OTAN, e mais o Japão, adotaram a lei interna de imigração dos EUA para discriminação coletiva aos países em desenvolvimento no âmbito da OMC.
O cartel da Internet, apoiado pelos EUA, usa o argumento da liberdade de expressão para fins políticos e econômicos próprios. Para ele, tudo vale para o ganho monetário. Nada se submete à legislação interna dos países alvo. Passam a ser permitidos o tráfico de armas, de entorpecentes e de pessoas; a pedofilia; o canibalismo; a difamação; a injúria; o colonialismo; o genocídio e a desobediência judicial. Também seria uma manifestação da liberdade a desestabilização de governos antipáticos e a sua substituição por títeres.
Recentemente, uma decisão do Supremo Tribunal Federal determinou fosse tirado do ar o serviço X, por desobediência a uma determinação válida daquela corte. Embora o “contempt of court” seja sancionado criminalmente na Inglaterra e nos EUA com 24 e 6 meses de prisão, uma ordem do STF, fundada no mesmo instituto, foi objeto de uma arrogante nota de protesto da embaixada americana (sic) e de virulentas matérias nos dois países, que a denominaram como “opaca”. Para os imperialistas, a soberania alheia não apenas incomoda, mas ofende. Para nós, ela é essencial.