Fabiana Funes, uma guerreira

Obituário de minha afilhada, São José do Rio Preto, 18 de janeiro de 2024.

Faleceu no dia 18 de janeiro de 2024, em São José do Rio Preto, a minha afilhada afetiva, a médica Dra. Fabiana Ribeiro Funes Cury, aos 45 anos, depois de uma devastadora e impiedosa doença. Fabiana era filha de um dos meus melhores amigos de infância e adolescência. O seu pai, o Prof. Dr. Hamilton Funes, um médico cirurgião, e eu fomos colegas nos bancos do G. E. Cardeal Leme e no I.E. Monsenhor Gonçalves, como também nas equipes de natação rio-pretenses, campeãs paulistas, como deixei registrado no livro Encontro com Décio Lang – A Formidável Natação Rio-Pretense nos anos 50 e 60, de 2017.

Apesar das nossas opções profissionais distintas, o relacionamento persistiu. Nossa amizade logo evoluiu para incorporar os demais membros das respectivas famílias. O Hamilton casou-se com a médica Marília Ribeiro, nascida no Rio de Janeiro, filha de portugueses do Distrito de Viseu. Após os anos de faculdade de medicina e residência, eles muito cedo se transferiram para Rio Preto, onde os familiares de Hamilton, muitos deles médicos, incluindo o pai e a mãe, eram sócios de um dos mais importantes hospitais da cidade.

Antes, contudo, tiveram a primeira de 4 filhas, a Fabiana, que foi seguida, já em Rio Preto, pelas outras 3, Fernanda, Flavia e Mariana. Devido às dificuldades empresariais sofridas pela família, causadas por um ambiente hostil e pouco confiável por parte do governo, que se provou atroz e destrutivo, o hospital acabou por fechar. Seguiu-se uma infundada, desalmada e injusta campanha de vilificação dos seus familiares pela imprensa e, pior, pelos meandros sociais da cidade, a qual inevitavelmente atingiu a escola onde Fabiana estudava.

Assim, desde tenra idade, Fabi teve que lutar contra a inveja, o preconceito, a intolerância, o desprezo e, até mesmo, o ódio. Muitas vezes ela esteve só e segurava o choro aflitivo causado pela frustração e tristeza, para manter a dignidade pessoal e familiar. Foi uma luta cruel, mas que temperou sua personalidade como ao aço. Ela se tornou uma mulher forte e com todas as qualidades antônimas às ofensas assacadas. Fabiana permaneceu uma lutadora também como médica, capacidade na qual conquistou respeito e chegou a atender dezenas de pacientes por dia, pelas diversas especialidades por que passou.

Fabi adquiriu o dom da tolerância, virtude a qual, segundo o sábio Voltaire, é “o apanágio da humanidade”. Ela se tornou serena, sensível e sensata. Já como médica, casou-se com o Dr. Carlos Cury (Carluccio), oftalmologista de família originária de Bauru, mas radicado em Rio Preto há muitos anos, quem também se tornou meu amigo. O Casal teve 2 filhos: Carolina e Gabriel, que trouxeram à Fabiana uma alegria radiante. Fabiana tratava os sobrinhos como aos filhos e amava os cães. Ela se tornou próxima, não apenas de minhas filhas, Anita, também médica, e Gabriela, professora, como também de meus labradores, Juba e Yara, que brincavam com seus filhos na piscina e fora dela.

A Fabiana e eu tivemos um relacionamento afetivo especial. Eu a considerava como afilhada, naquilo que foi uma rica amizade como a que tive e ainda tenho pelo seu pai, sua mãe e demais familiares. Nos momentos de dúvidas, a Fabi não deixava de me procurar para ouvir meus conselhos sobre assuntos os mais diversos, incluindo a respeito da educação e formação de seus filhos, missão que ela considerava a mais importante de sua existência. Ela me pediu que revisse e, dias antes de nos deixar, finalizasse por si a sua autobiografia, trabalho que não pude fazer, pois o manuscrito não chegou às minhas mãos. A doença foi mais veloz.

Em algumas circunstâncias bastante difíceis de minha vida, a Fabi esteve ao meu lado, às vezes com toda a sua família, incluindo o Carluccio, seus pais e irmãs. A solidariedade fazia parte integrante de sua alma e acompanhava a alegria de viver. Como era de seu caráter, a Fabiana lutou tenazmente até o final contra a doença, por mais de 3 anos, mas sempre com determinação, fé, esperança, lucidez e equilíbrio. Ela tristemente perdeu a batalha nesta última semana. A sua partida precoce deixou um enorme vazio nos corações e almas de todos aqueles que a conheceram, mas que é acompanhado pelo brilho do exemplo de sua vida de dignidade, fibra, trabalho e dedicação à família e aos próximos.

Fabiana Ribeiro Funes Cury (*23.07.1978 – + 18.01.2024)