Introdução do livro Antologia – Crônicas pela Liberdade

Prefácio do livro Antologia – Crônicas pela Liberdade, São Paulo, 21 de abril de 2019.

Eternal vigilance is the price of liberty.
Thomas Jefferson.

O aviltamento das liberdades democráticas no Brasil iniciou-se há cerca de quatro anos, com a utilização de certos quadros do Judiciário para, sob o pretexto do combate à corrupção endêmica, interferir na ordem legal democrática mediante a deposição da presidente da República regularmente eleita, Dilma Rousseff, e da perseguição fraudulenta de políticos com potencial de ganhar as eleições de 2018, especialmente no caso de Luís Inácio Lula da Silva. Tais ações tiveram o apoio e o estímulo de potências estrangeiras interessadas na desestabilização interna do Brasil, por motivos de geopolítica, e contaram com o sustentáculo doméstico de setores ligados ao capital rentista, sob o manto de uma diáfana, quimérica e especiosa fantasia neoliberal.

Forças políticas oportunistas, empurradas por um vagalhão de propaganda falsa nas mídias sociais, valeram-se de tais circunstâncias de maneira a motivar o eleitorado brasileiro a eleger para a presidência da República Jair Bolsonaro, um militar de baixa patente, reformado, e um congressista de escassos méritos. Ele já havia construído uma larga história pessoal de ódio, de discriminação às mulheres, homossexuais, negros, índios, árabes, imigrantes e de opositores políticos de todos os matizes. Apologista da tortura e da ditadura militar, Bolsonaro posiciona-se também contrariamente à proteção ambiental, à ordem jurídica multilateral do comércio, à Organização das Nações Unidas, ao Mercosul e a um grande número de instituições nacionais e internacionais que promovem valores caros à Humanidade.

Eleito presidente da República, Bolsonaro cercou-se de uma milícia de sicofantas truculentos que levou ao poder Executivo, com o objetivo principal de entregar a soberania do Brasil aos Estados Unidos da América, de desmontar um arcabouço de conquistas individuais e sociais da democracia brasileira, e de implementar uma ordem econômica interna visando os interesses do capital rentista em geral, e dos grandes conglomerados financeiros, em particular. Aqui cabe a advertência de Antonio Gramsci no sentido de que uma sociedade que trabalha para a criação de parasitas, na realidade destrói a si própria.

Ademais, logo no início de sua gestão, ficou claro que sua política educacional era a da promoção da estupidez coletiva no País e que a sua política trabalhista era a da eliminação dos sindicatos e a erosão dos direitos históricos dos trabalhadores face aos empregadores. Forças a ele ligadas procuraram ao mesmo tempo desacreditar setores independentes do poder Judiciário e cooptar, mediante métodos escusos, largos contingentes do poder Legislativo. Bolsonaro transmutou-se imediatamente de ameaça putativa em fator real de desconstrução do edifício civilizatório nacional.

A União Brasileira de Escritores – UBE, entidade que celebra 7 décadas de lutas em prol da democracia, do estado de Direito, das liberdades civis, dos direitos humanos e das conquistas sociais do povo brasileiro, cedo apercebeu-se da ameaça representada por Bolsonaro e seus asseclas e tem se posicionado em defesa de nossos melhores valores libertários. De fato, conforme escreveu o grande pensador italiano, Benedetto Croce, a historiografia é uma marcha incessante do homem rumo à conquista da liberdade que, por sua vez, se converte no princípio de interpretação do desenvolvimento da história e do ideal moral da civilização .
Por sua vez, o notável pensador brasileiro, Caio Prado Júnior lembrava que a liberdade liberal era uma apenas liberdade jurídica e não totalmente de fato . Segundo ele, no sistema capitalista, a liberdade se propõe no terreno dos direitos do indivíduo, na ordem jurídica, face ao Estado e aos demais indivíduos. A verdadeira liberdade, segundo Prado Júnior, é mais ampla, compreendendo também as esferas econômica, social e cultural. O próprio Benedetto Croce já havia advertido que “a liberdade no singular existe apenas nas liberdades pluralistas ”.

Ocorre que, sob o governo de Jair Bolsonaro, até mesmo a liberdade liberal encontra-se hoje comprometida, pelo desvirtuamento institucional dos poderes e não observância dos direitos consagrados na Constituição. Este preocupante estado de coisas levará, inexoravelmente, a um poder Executivo a serviço clientelista de potências estrangeiras e de rompimento com a ordem jurídica internacional. Ademais, os privilégios econômicos idiossincráticos outorgados às minorias privilegiadas serão feitos às expensas do bem estar da Nação, condenada à mais abjeta miséria.

Assim, a União Brasileira de Escritores – UBE conclamou seus associados a colaborar nesta Antologia de Crônicas pela Liberdade, de forma a enaltecer os nossos consagrados direitos humanos e, ao mesmo tempo, repudiar a ditadura, o arbítrio, o ódio, a tortura, a destruição do meio ambiente, o alinhamento automático às forças das trevas e a discriminação institucionalizada. A acolhida foi ampla, já que a consciência do escritor brasileiro tem presente não apenas as ameaças objeto do tenebroso governo Bolsonaro, mas também que, sem a liberdade não poderá exercer seu ofício.

Participam desta Antologia associados da UBE que são igualmente grandes nomes nacionais como o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que foi ministro de Estado e Alto representante do Mercosul; Maria Maia, notável cineasta; Professora Regina Gadelha, coordenadora de pós-graduação na PUC-SP e do NECI; Embaixador Adhemar Bahadian, ex-embaixador em Roma e ex-presidente da Alca; Melchiades Montenegro, presidente da Academia Recifense de Letras; Walter Sorrentino, presidente do conselho curador da Fundação Maurício de Grabois e vice-presidente nacional do PC do B.

Da mesma forma, colaboram nesta Antologia de Crônicas pela Liberdade Durval de Noronha Goyos Júnior, presidente da UBE e membro da Academia de Letras e Artes de Portugal; Ricardo Ramos Filho, vice-presidente da UBE e professor de literatura; Mozart Noronha, professor e eminente cordelista pernambucano; Sírlia Souza de Lima, da Academia Norte Riograndense de Literatura de Cordel; Dulce Krock, professora da Universidade Federal do Paraná; Emérita Andrade Ramos, da Academia de Cultura da Bahia; Christina Hernandes, do Núcleo de Letras y Artes de Buenos Aires; Everaldo Dantas da Nóbrega, da Academia Paraibana de Letras Jurídicas; o indigenista, orador e escritor Gouveia de Hélias.

Outros notáveis escritores que participam desta Antologia são a premiada Jacira Fagundes, de Porto Alegre; Hélio Consolaro, da Academia Araçatubense de Letras e ex-secretário da Cultura; Manoel de Castro Carneiro Neto, da Academia Sobralense de Estudos e Letras, do Ceará; o cronista gaúcho Marcelo Allgayer Canto; a professora Maria Inez Masaro Alves, de Serra Negra; a professora Celina Moraes, de São Paulo; o jornalista Assad Bechara, também de São Paulo; o escritor mato-grossense Ademir Barbosa dos Santos; o escritor Moacir Inácio, de São João da Boa Vista; a escritora Mônica de Souza Lopes, de São Paulo; a escritora gaúcha Nilva Ferraro, de Porto Alegre.

Por último, enriquecem ainda esta Antologia de Crônicas pela Liberdade, da União Brasileira de Escritores, a escritora mineira Amanda Castilho, de nossa dinâmica Comissão do Jovem Escritor; o escritor paulista Wanderley Roberto Bonifácio; o escritor Marcos Antônio Freitas Martins; o escritor Rogério Vaz de Oliveira; a escritora Maria Aparecida de Rezende Gaiofatto, da Casa do Poeta de Ribeirão Preto; e o escritor luso-brasileiro, o jornalista António Paixão.

Como nas anteriores antologias da UBE, esta tem uma vasta representatividade nacional, com autores selecionados dos estados da Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e São Paulo. Do exterior, temos participantes da Argentina, França e Portugal. Como é natural e usual nas antologias, também nesta cada um dos autores responde pessoalmente nos termos da Lei pelo material de sua responsabilidade pessoal e aqui publicado.

Esperamos que todos nossos leitores sejam ainda mais inspirados pelos ideais de liberdade com esta mais recente produção, a décima segunda, da UBE Editora, em seus dois anos de atividades.

São Paulo, 21 de abril de 2019.