O Oráculo do Pecado

Prefacio do livro IMPERFEITA – sementes líricas”, de Andrea Pelegrinelli, dezembro de 2015.

A poesia erótica feminina, no Ocidente, tem suas raízes clássicas na Grécia antiga e manifestações diversas através os tempos em muitos países. Nem sempre bem compreendida, o gênero rapidamente se transformou num dos símbolos da libertação feminina no século passado. Caracterizou-se, então, pela libertação dos sentimentos, livre expressão e liberdade no uso da linguagem poética.

No Brasil, a poesia erótica feminina teve, dentre outras, Hilda Hilst e Gilka Machado que, em Ser Mulher, legou-nos o verso abaixo:
“Ser mulher, desejar outra alma pura alada e
para poder, com ela, o infinito transpor,
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor.”
Hoje, destaca-se cá dentre nós a poesia libertária de Andrea Pelegrinelli, meio com o qual tem a Poeta um conúbio:
“A poesia
demonstra-me
que não sou
uma mulher
de poucos sentimentos…
Por isso
a escolhi
como cúmplice
e
amante.”

O texto acima faz parte do elenco de vinte e seis poesias de Andrea Pelegrinelli que compõe o livro “IMPERFEITA-sementes líricas”, no qual a poeta dá notável seguimento ao trabalho objeto da edição bilíngue, em português e italiano, do livro “Eu sou o Pecado, a paixão, o prazer…Cecília”, publicado pela GARCIA edizioni, Torino, em 2012. Nele, em italiano, vem anunciado “Il peccato trabocca soave dal mio cuore” como uma advertência.

Andrea Pelegrinelli faz poesia erótica, provocadora e instigante sem cair na vulgaridade. Não faz uso do baixo calão para afirmar sua emancipação e libertação, como se fez no século passado, com resultados mistos. Atinge o mesmo objetivo, contudo, ao escrever com verve, elegância e graça, com o que sua poesia não deixa de ser voluptuosa e carnal. E bela.

A poesia de Andrea Pelegrinelli retrata a comunhão entre a carne e o espírito, numa cama de abandonado despudor, de onde tremula a bandeira da emancipação da mulher. Sua leitura é muito prazerosa. Ao terminar a leitura das 26 poesias o leitor tem o irrefreável desejo de repetir o ato.