Publicado na Coluna Semanal do Dr. Noronha a convite do sítio “Última Instância – Revista Jurídica”, São Paulo, Brasil, 14 de julho de 2010.
A criação da moeda européia, o Euro, pelo Tratado de Maastricht, em 1992, e seu uso efetivo, a partir de 1999, trouxeram sentimentos de desconforto e de antagonismo nos EUA (Estados Unidos da América), que temiam a perda da confortável situação em que sua moeda, o dólar americano, usufruía como valor de reserva mundial. Essa percepção advinha do fato de que o dólar americano já havia perdido seu valor intrínseco e representava apenas o poderio do Estado que o emitia.
Por sua vez, o Reino Unido, membro da UE (União Européia), optou por ficar fora da chamada zona do Euro, hoje composta de 16 países dos 27 membros do bloco comercial, porque pretendia defender sua moeda, a libra esterlina, valor reserva de secunda categoria, mas esteio da City, principal centro econômico do país, altamente dependente do setor de serviços financeiros e assemelhados.
Apesar das muitas imperfeições técnicas na sua criação, como a falta de uma política tributária uniforme para a zona do Euro, da mesma forma que a inexistência de mecanismos de controle e de sanções para o descumprimento da política fiscal dos seus membros, a moeda européia teve um início bastante auspicioso, já que gradualmente passou a representar cerca de um terço das reservas monetárias internacionais.
Com os continuados abusos macroeconômicos havidos nos EUA e no Reino Unido, decorrentes da insana doutrina do neoliberalismo que levou o caos absoluto aos seus setores financeiros, a tendência natural para o ano de 2010 seria a da valorização do Euro, em detrimento das moedas representativas das economias falidas daqueles dois países.
No entanto, alimentada pela poderosa imprensa americana e inglesa, abateu-se uma crise artificial de credibilidade sobre a moeda européia, bem a gosto dos especuladores dos mercados financeiros, que realizam lucros expressivos com grandes movimentos de depreciação e apreciação de valores.
Instados por tais notícias tanto alarmantes como exageradas da situação econômica de países periféricos da UE, como a Grécia e Portugal, cujos indicadores de resto eram muito melhores do que os dos EUA e do Reino Unido, os especuladores começaram um movimento vendedor do Euro, derrubando sua cotação para cerca de 70% do que era em meados de 2009, face ao dólar norte-americano.
Contudo, como a situação econômica e o perfil fiscal dos países da zona do Euro, liderados pela Alemanha, são bastante superiores àqueles do Reino Unido e também dos EUA, a moeda européia recuperou-se rapidamente e hoje se encontra num patamar de 90% daquilo que representava face ao dólar norte-americano há um ano.
De mais a mais, a reação aos fatores da crise foi muito mais consistente na zona do Euro do que nos EUA e no Reino Unido, onde a gestão macroeconômica continua a dar ensejo a grandes preocupações. Mesmo a proposta reforma da regulamentação financeira, presentemente sob exame no senado dos EUA, é modesta e não tem condições de reverter a derrocada da moeda do país.
Enquanto americanos, ingleses e europeus debatem-se pela primazia de suas moedas, é de se notar que, no período de junho de 2009 a junho de 2010, a moeda brasileira, o Real, apreciou-se em cerca de 10% face ao dólar norte-americano, e o Yuan chinês em aproximadamente 5%. Esses desdobramentos devem ensejar aos estrategistas brasileiros e chineses o estudo de como promover a maior aceitação internacional das moedas dos respectivos países.