Hu Jintao conclama países à cooperação no âmbito do regionalismo

Publicado na Coluna Semanal do Dr. Noronha a convite do sítio “Última Instância – Revista Jurídica”, São Paulo, Brasil, 27 de abril de 2011.

Beijing – O presidente da República Popular da China, Hu Jintao, proferiu importante discurso estratégico por ocasião do encerramento do Boao Forum for Ásia, em Hainan, no sudeste do país, ao qual esteve presente a presidente Dilma Rousseff, dentre outros chefes de Estado. Em seu pronunciamento, o presidente chinês conclamou aos Estados à cooperação de acordo com o principio do consenso balizado pelo objetivo do progresso coletivo.

De acordo com sua visão, faz-se necessária a cooperação regional, bem como a reforma da governança econômica global e dos sistemas multilaterais econômicos e financeiros, o que deve ser entendido como o Banco Mundial, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OMC (Organização Mundial do Comércio).

Dias antes, ao apoiar categoricamente a indicação do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o presidente chinês também se pronunciou pela necessidade da reforma jurídica do sistema político de governança global.

Da mesma maneira, Hu Jintao propôs um distanciamento da mentalidade da Guerra Fria e um abandono do jogo da soma zero, tradicionalmente praticado pelas potências hegemônicas, no qual apenas um país é o vencedor, sempre anunciado.

O presidente chinês ainda expressamente convidou a todos os países, inclusive os Estados que compõe o grupo BRICS, do qual faz parte o Brasil, a participar no processo de cooperação na Ásia, de maneira que o continente possa ser ainda mais pacífico, estável e prospero.

O importante discurso presidencial foi feito num momento em que a China prepara a mudança de seu projeto macroeconômico para favorecer o mercado de consumo interno, em detrimento do modelo exportador. Da mesma forma, o país começa a se posicionar para se tornar um exportador de serviços e, principalmente, de capitais.

Para tanto, embora a taxa cambial chinesa ainda não seja flutuante, o país se preocupa com os fluxos crescentes de capitais especulativos, que foram da ordem de US$ 35 bilhões em 2010, mas que já atingiram US$ 25 bilhões apenas no primeiro trimestre de 2011.

Assim, muito embora o processo de uma maior liberalização dos mercados financeiros chineses esteja em andamento, o país procurará controlar os fluxos dos capitais especulativos internacionais, corretamente interpretados na China como detrimentais aos interesses nacionais.

Dessa maneira, os dirigentes chineses apreciaram as novas diretrizes do FMI que encorajam os mercados emergentes a adotar medidas para o controle dos capitais especulativos, de acordo com certas condições. O FMI corretamente autorizou o tratamento diferenciado dos capitais especulativos com relação aos investimentos diretos de longo prazo, que tem um efeito positivo na economia global.

O importante pronunciamento do presidente Hu Jintao em Hainan reafirmou o papel de liderança da China na melhoria da governança global, num momento em que a economia do país prepara-se para um novo salto de qualidade.