Por ocasião da solenidade de ingresso na Academia Rio-pretense de Letras e Cultura de São José do Rio Preto, Rio Preto Automóvel Clube, São José do Rio Preto, SP, Brasil, 17 de agosto de 2010.
Excelentíssimo Doutor Antonio Carlos Del Nero, ilustre presidente da Academia Rio-Pretense de Letras e Cultura, dignos Senhores Acadêmicos, Caras Amigas e Amigos, Senhoras e Senhores,
Agradeço inicialmente a generosa apresentação feita pelo meu querido amigo de infância, notável cirurgião cardíaco, escritor e, antes de tudo, grande cavalheiro, o Acadêmico Dr. José Luís Balthazar Jacob. Em ocasiões semelhantes, é de praxe fazer-se o elogio do patrono da cadeira e dos antecessores. Como, no caso, sou o primeiro a ocupar a cadeira 37, gostaria de fazer o encômio da nossa gente e das nossa coisas e, bem assim, alguns comentários sobre a importância do nacionalismo cultural no Brasil.
O Nacionalismo tem sido nos últimos séculos a força motriz tanto das ações dos países imperialistas e hegemônicos quanto da resistência dos países periféricos. Foi o nacionalismo que inspirou as políticas coloniais européias que misérias semearam mundo afora. Kipling, muito cinicamente, justificou o cruel imperialismo inglês, que chegou mesmo a promover o tráfico institucional e a produção de ópio, para além do tráfico de escravos,e também o americano, como “the white man’s burden”, o ônus do homem branco.
Por sua vez, os Estados Unidos da América justificaram suas guerras imperiais de conquista, inclusive aquelas contra o México, em que tomaram mais de metade do território deste, como “o manifesto destino” de sua superioridade. Hitler quis promover a supremacia da raça ariana, enquanto Mussolini ambicionou a criação de um novo império romano, com aventuras na África e nos Bálcãs. Os militaristas japoneses procuraram provar a supremacia de seu povo com o desprezo a outros.
A chamada guerra fria foi um confronto de imperialismos. Com o passar dos anos, um núcleo duro de países hegemônicos buscou tentar impor seus valores, sua cultura e sua ascendência sobre os demais, com o objetivo de tanto aplicar um receituário para a sua sistemática exploração rapace, como também auferir vantagens estratégicas, comerciais e financeiras. A este fenômeno convencionou-se chamar globalização.
De outro lado, foi também o nacionalismo que inspirou a resistência dos países explorados contra os desígnios do imperialismo econômico e cultural. Assim, foi o nacionalismo que inspirou os movimentos de independência na América Latina e de descolonização da África. Foi o nacionalismo a força que inspirou a criação da República da China em 1912 e a República Popular da China em 1949. Foi o nacionalismo o matiz da campanha de independência da Índia, dado por Mahatma Gandhi. Foi o nacionalismo a induzir o grande Nelson Mandela à libertação de seu povo dos grilhões do apartheid.
No Brasil, foi o nacionalismo o movimento a alimentar o grande esforço de construção econômica do País, a partir da proclamação da República. Foi o nacionalismo também a inspirar a Semana da Arte de 22 e seus grandes nomes como Villa Lobos, Tarsila do Amaral, di Cavalcanti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret, e Menotti Del Picchia, dentre outros.
Nas palavras do grande pensador brasileiro, Prof. Carlos Lessa, “a nação como território da soberania de um povo… é a instituição matriz e mantenedora dos anteparos diante de um mundo cada vez mais propenso a uma crise estrutural…” O nosso nacionalismo se caracteriza pela promoção dos anseios de prosperidade econômica e do desenvolvimento social do povo de um país, pelo engrandecimento de suas instituições e pela afirmação de seus valores humanos, sociais e culturais. Fernando Pessoa escreveu que “O nacionalismo é um patriotismo ativo. Pretende defender a pátria das influências que possam perverter a sua índole própria…”
Tinha razão o grande poeta português. Através da desmoralização dos valores de terceiros, promovem sua ascendência os países hegemônicos com aquilo que chamam de “soft power”. Incentivam a esterofilia e a percepção de que tudo o que é estrangeiro é melhor. A promoção da depreciação dos outros abre o caminho para os seus produtos e serviços e, afinal, sua dominação. Trata-se da colonização mental tão bem denunciada por Gabriel Garcia Marquez. A corrupção da língua nacional pelos estrangeirismos desnecessários é uma manifestação daqueles maus brasileiros que depreciam tudo o que é doméstico. Ora, já alertava o grande Eça de Queirós que “na língua verdadeiramente reside a nacionalidade e que uma nação só vive porque pensa”. O aviltamento lingüístico corresponde à destruição da alma nacional.
Pois bem, a Academia Rio-Pretense de Letras e Cultura é um agente de promoção dos valores culturais nacionais e do humanismo. Dessa maneira, ela presta um inestimável serviço ao País. Ela encoraja e valoriza a produção literária e artística e bem assim a afirmação da língua portuguesa. Numa região muito rica nas manifestações culturais próprias, as tradições caipiras, a Academia tem um papel relevante na preservação de seus tesouros e bem assim no modo de falar e no vocabulário precioso de origem tupi-guarani, que designa a nossa flora e a nossa fauna, bem como tantos dos nossos sentimentos e maneirismos.
É com muita alegria e grande orgulho que hoje assumo a Cadeira 37 da Academia de Letras e Cultura de São José do Rio Preto, minha muito amada terra natal, como uma expressiva homenagem à minha pessoa e com o firme compromisso de emprestar minha modesta contribuição ao engrandecimento de nossa gente e de nossa cultura.