Introdução do livro Revolução Cultural na República Popular da China

Por Embaixador da República Popular da China, Chen Duqing, janeiro 2017, China.

Desperta-se cada vez mais no Brasil o interesse pela China. O
meu amigo Dr. Durval de Noronha Goyos Jr. deu recentemente uma aula
magna para os programas de pós-graduação da PUC-SP. Ele fez um relato
sucinto sobre a história moderna da China com destaque sobre a Revolução
Cultural (doravante abreviada como RC). No dia 1 de outubro passado,
a China comemorou o sexagésimo oitavo aniversário da Fundação da
Nova República. 68 anos é apenas um lapso de tempo da história milenar
chinesa. A China saiu da pobreza e atraso e posiciona-se agora como a
segunda economia do Mundo. No entanto, para chegar a este patamar,
a China percorreu um caminho sinuoso, com muitos altos e baixos. Nesse
sentido, não podemos deixar de abordar o período da RC.

Quanto à RC, existem muitos estudos dentro e fora da
China. Mil cabeças, mil conclusões. Como deve ser vista e analisada
a RC? Em junho de 1981, cinco anos e meio após o término da RC,
o Partido Comunista da China realizou a sexta sessão plenária do
XI Congresso, e aprovou a extensa “Resolução sobre as Diversas
Questões do Partido pós-fundação da República Popular”. A Resolução
defi ne categoricamente: a história da RC comprovou que os principais
argumentos do Camarada Mao Zedong com os quais desencadeou
a RC não correspondiam ao Marxismo-Leninismo, nem à realidade
chinesa. Os argumentos do Camarada Mao Zedong, decorrentes da
avaliação da situação de classes e da situação político-partidária eram
completamente errôneos. A RC começou em maio de 1966, e terminou
em outubro de 1976, causando ao Partido Comunista, ao País e aos
Povos os reveses e perdas mais pesadas pós-Fundação da República
Popular. Durante a RC, elementos mal-intencionados dentro do Partido
Comunista aproveitaram a oportunidade no intuito de usurpar o
poder máximo. Eles aproveitaram os erros cometidos do Camarada
Mao, e fizeram muitas atividades criminosas à sua revelia. Ainda bem
que, no decurso da RC, foram desmascarados oportunamente dois
grupos conspiratórios, um de Lin Biao, e o outro, Gangue dos Quatro,
chefi ado pela Jiang Qing, esposa de Mao. A RC não trouxe nenhum
progresso social, mas sim uma desordem desastrosa. A RC trata-se de
um erro ultra-esquerdista, prolongado e generalizado em todo País,
pelo qual, o Camarada Mao Zedong era o principal responsável. O
desencadeamento da RC ainda teve os motivos socio-históricos muito
complexos. Não se deve ser simplista atribuir toda a responsabilidade
ao Camarada Mao Zedong.

A Resolução demonstra que o Partido Comunista da China tem
tido coragem de encarar e corrigir os próprios erros, e estão decididos
e são capazes de evitar os erros passados. A respeito do Camarada
Mao Zedong, a Resolução considera que ele era um grande líder. Ele
foi salvador da Nação chinesa. Sem ele, a China poderia estar ainda na
escuridão. Ele não é Deus. Sendo assim, é compreensível que ele tenha
cometido erros, mesmo graves.

Sobre os efeitos negativos da RC, o Partido Comunista e o
povo da China pensaram e refl etiram muito. Justamente, os reveses
e perdas deram razão a uma reviravolta. No fi nal de 1978, iniciou-
se o processo da abertura e reforma. Nos últimos 37 anos, a China
segue uma trajetória sadia e fi rme em construir o socialismo com
caraterísticas chinesas. Hoje em dia, o povo chinês, mais do que
nunca, está convicto dos acertos na teoria adotada, no seu caminho e
o sistema social escolhido bem como na própria cultura, trabalhando
arduamente para atingir os dois grandes objetivos: um, uma vida
modestamente confortável para todo o povo até 2021, quando do
centésimo aniversário da fundação do Partido Comunista da China e,
segundo, a China se enfi leirará nos países desenvolvidos no ano 2049,
quando a República Popular festejará os seus cem anos.

A China e o Brasil são geografi camente muito distantes. No
entanto, a distância não impede que os dois Países se aproximem um
do outro. As relações bilaterais em todos os domínios são bastante
intensas, mas ainda muito aquém do nível desejado. A meu ver, o
maior empecilho é ainda a falta do conhecimento recíproco. Deve-se
promover intercâmbio cada vez maior entre os setores acadêmicos,
educacionais, da media e formuladores de opinião em prol de um
ambiente mais amistoso entre os dois países e povos, ao mesmo tempo
se aprofunda de forma constante a cooperação económico-comercial,
cienơ fi co-tecnológico etc.

Acredito que a palestra do Dr. Durval de Noronha Goyos
Jr. possa ajudar os diversos segmentos da sociedade brasileira a se
interessar mais pela China, a entender a história e a realidade chinesa.
Como disse o Dr. Noronha muito bem no último parágrafo da sua fala, “a
China atual tem trabalhado para sua própria felicidade e civilização, da
mesma forma, pela qual tem promovido a paz e a liberdade mundial”.
É com admiração e estima pelo meu amigo, escrevi o que está
acima, esperando servir com uma modesta introdução do livro a ser
lançado.