Livro de jurista rio-pretense narra acontecimentos que marcaram o declínio do império Chinês

Entrevista para o jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, 08 de dezembro de 2021, Brasil.

O escritor e jurista rio-pretense Durval de Noronha Goyos Jr. acaba de lançar a obra acadêmica “As Guerras do Ópio na China e os Tratados Desiguais”, publicada pela editora Observador Legal, que é especializada em publicações jurídicas. Autor de mais de 60 livros, que transitam pelas áreas de direito internacional, lexicografia, história e economia até romances e contos eróticos, o jurista narra, sob uma ótica humanística, os acontecimentos que marcaram o declínio do império chinês e o período conhecido como a “Grande Humilhação”.

A obra é fruto de quase 15 anos de pesquisas e entrevistas. Na publicação, o escritor se debruça em um estudo das chamadas “Guerras do Ópio na China”, que conta desde os primeiros registros do uso do derivado da papoula como medicamento, até a descoberta de uma droga viciante, que resultou na morte de muitas pessoas, incluindo milhões de chineses e indianos dominados pelo colonialismo inglês e forçados a trocar a produção de alimentos pela do ópio, que era o principal produto de exportação para a China.

Com 208 páginas, o livro tem prefácio assinado pelo professor Marcos Cordeiro Pires, da Unesp de Marília. A obra custa R$ 60 e pode ser adquirida nos sites das editoras Observador Legal, Anita Garibaldi e Mercado Livre. Confira abaixo a entrevista com o jurista rio-pretense sobre o novo livro.

Diário da Região – Por que o senhor decidiu lançar o livro “As Guerras do Ópio na China e os Tratados Desiguais”?

Durval de Noronha Goyos Jr. – Trata-se de um tema de grande relevância histórica, principalmente para a área de relações internacionais e a do direito internacional. A temática nele desenvolvida serve igualmente para os amantes da história em geral e, em particular, da tanto milenar quanto fascinante civilização chinesa. Trabalho neste projeto há 15 anos, de maneira intermitente, mas o concluí neste ano de 2021, dentre outras tarefas. A bibliografia do trabalho e as notas de rodapé evidenciam a amplitude do empreendimento. No entanto, o livro tem apenas 208 páginas, em respeito à piedosa paciência e à generosa boa vontade dos meus leitores.

Diário – O que o leitor encontra nesta obra?

Goyos Jr. – Tendo sempre como pano de fundo a história da civilização chinesa, o livro inicia por abordar o desenvolvimento do uso do ópio na medicina, primeiramente no Oriente Médio e, depois, na Europa. Em seguida, trato dos descobrimentos europeus, por Portugal, dos caminhos marítimos para o Oriente e da presença portuguesa na Ásia, por aproximadamente 200 anos antes da chegada dos rivais comerciais Holanda, Inglaterra, França, dentre outros. Os fluxos comerciais da época são examinados e bem assim a literatura portuguesa a tratar da China, naquele período. Os lusitanos faziam um comércio de especiarias, a maior parte do qual era direcionado, não à Europa, mas sim a outros países asiáticos, notadamente ao Japão. O ópio não era comercializado pelos portugueses e teve uma introdução tardia na China. A chegada dos ingleses, com sua larga tradição de pirataria, alterou a dinâmica dos acontecimentos. Os britânicos não tinham produtos que interessassem à população chinesa e, por conseguinte, optaram por contrabandear o ópio para a China, ação já proibida pelo direito internacional da época. A droga era produzida pelos ingleses em sua colônia da Índia e levada via marítima para a China. Largos segmentos da população chinesa viciaram-se no consumo do ópio, que se tornou a principal mercadoria do comércio mundial no período. As tentativas de repressão chinesa ao tráfico de entorpecentes, feito como política de estado da Inglaterra, causaram as duas guerras do ópio, a desestabilização do governo oriental e a miséria da população local. Como resultado, foram feitas enormes concessões pela China aos governos contrabandistas da Inglaterra, EUA, França e Holanda, bem como também à Rússia e ao Japão, que se aproveitaram do caos para extrair enormes vantagens econômicas e territoriais, através dos chamados ‘tratados desiguais’. A cooperação deste consórcio imperialista estabeleceu o precedente para a expoliação coletiva dos países em desenvolvimento, situação que se verifica até os nossos dias.

Diário – Qual a conclusão do livro?

Goyos Jr. – O livro conclui por demonstrar como algumas das subsequentes práticas hegemônicas dos países imperialistas foram inspiradas nas ações realizadas nas guerras do ópio e menciona suas repercussões nas relações internacionais e em alguns tratados multilaterais de comércio. E assim demonstra que a luta pela soberania e desenvolvimento digno pelos países em desenvolvimento está longe de terminar na esfera internacional.

Diário – Este não é o primeiro livro em que o senhor aborda a China. O país tem um papel importante na trajetória profissional?

Goyos Jr. – De fato, tenho um grande interesse pessoal e admiração pela cultura, civilização e pelo povo chinês. As fotos publicadas no livro de diversos itens de minha coleção pessoal ressaltam tal ponto. Assessorei o governo chinês na acessão à organização mundial do comércio em 2000 e 2001. Escrevi livros de Direito sobre a China em 2002 e 2004. Em 2008, publiquei meu dicionário de mandarim; em 2010, publiquei mais um livro sobre o direito chinês, disciplina em que coordenei o primeiro programa de pós-graduação no Brasil. Em 2012, lancei o meu livro de ensaios econômicos, financeiros e políticos sobre a China e, em 2016, publiquei minha obra histórica sobre a revolução cultural na China, que foi traduzida para o inglês e para o mandarim. Dei aulas nas principais universidades chinesas. Como advogado, tenho escritórios na China desde 2001 e fui o primeiro gabinete latino a receber autorização para abrir dependências no País. Minhas relações com o País são notórias e, em particular para São José do Rio Preto, tive o prazer de promover a instalação do primeiro Instituto Confúcio no Brasil, no Ibilce. Também promovi a relação de cidade irmã com Nantong, um dos principais municípios chineses. Minhas relações com a China dariam um outro livro. Peço a você não me provocar (risos).

Por: Francine Moreno
Fonte: Diário da Região de São José do Rio Preto.