Resenha publicada no sítio eletrônico maluvisita.com por Malu Rodrigues, São José do Rio Preto, 15 de junho de 2017.
“Shanghai Lilly é uma obra da mais absoluta ficção. Todos os personagens são criações
exclusivamente imaginárias de natureza artística pelo Autor (…)”.
Assim começa primeiro romance escrito por um dos mais destacados advogados brasileiros Durval de Noronha Goyos Júnior. Ele, que é e presidente da UBE – União Brasileira de Escritores, assina a obra sob o heterônimo de António Paixão.
O título do livro, Shanghai Lilly, foi inspirado no nome da bela cortesã Shanghai Lily. Uma personagem de Marlene Dietrich no filme O expresso de Xangai de 1932.
Formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O autor é pós-graduado no Hastings College of Law, e já publicou 58 volumes em direito internacional, lexicografia, história e economia. Agora se aventura pela narrativa da vida nada ortodoxa de Vivian Salomon.
O profissional foi responsável pela abertura do primeiro escritório jurídico de origem latina a receber permissão do governo chinês para se estabelecer na cidade de Xangai em 2001. Um dos poucos autores brasileiros publicados em Mandarim. Suas obras são traduzidas e adotadas em escolas e universidades de todo o mundo.
Seu Dicionário de Anglicismos recebeu do renomado crítico Wilson Martins o seguinte elogio:
“A inevitável contaminação da língua portuguesa por anglicismos é mapeada num irônico dicionário que lembra Flaubert”.
O livro é um desafio literário pois o autor escreve como uma mulher. Nascida em 1974, Vivian é uma executiva financeira de sucesso que contrata um jornalista falido para registrar sua trajetória em livro. O contratado, António Paixão, é para ela, “um velhote neurastênico, feio de doer e ainda comunista de carteirinha”.
A personagem conta que rapidamente descobriu sua paixão pela escrita mas, sem paciência para o trabalhão que dá escrever, preferiu “ter alguém que fizesse o trabalho sujo para mim, enquanto eu me dedicava aos pontos mais nobres e elevados do ofício de escrever, como trazer a inspiração e contar a história”.
E adverte as leitoras que todas as feiuras constantes na obra são de exclusiva responsabilidade do jornalista, informando, por outro lado, que os acertos, o estilo elegante e as demais belezuras da obra são seu inteiro e exclusivo mérito.
Noronha usa a persona de Paixão para contar as glórias e desventuras da heroína em primeira pessoa. E quando descreve os embates entre a protagonista e o autor, revela a sua própria dualidade na elaboração do texto. Vivian conta que o jornalista insistiu em colocar “muitas baboseiras referentes à história, ‘para contextualizar a narrativa’, dizia ele, como se minha experiência não fosse suficiente para apimentar qualquer prato. Ele também insistiu em citações literárias diversas, quase todas sem sentido nenhum e que, em minha opinião , até mesmo atrapalham a compreensão da minha vida”.
É assim que se entrelaçam, na narrativa, o vasto conhecimento acadêmico e as muitas viagens feitas pelo advogado, juntamente com as cenas descritas pela personagem que prefere usar um linguajar mais descontraído acessível, com gírias e até emoticons.
Além das citações históricas e eruditas, Shanghai Lilly também faz jus ao discurso sem pudores de sua protagonista.
“Modéstia à parte, tenho certeza absoluta que o meu desempenho na entrevista foi perfeito. Estava bem ereta, com os peitos para frente, digamos proeminentes, assim como os bicos dos mamilos, e assim valorizados pela camiseta branca fina que foi desprezada pela Patrícia Rizkallah-aquela-anta-libanesa. Kkk. Eu estava mais que gloriosa, um verdadeiro tesão, modéstia à parte.”
Sem cerimônia, ela dedica o livro a si mesma e explica que a recomendação de escrever a história da sua vida veio do seu psiquiatra. Ele assegurou que suas experiências, embates, sofrimentos, espírito de luta e caráter poderiam servir de inspiração a outras mulheres exploradas pelos homens de dentro e de fora das respectivas famílias.
“Creio também que minhas receitas de superação dos problemas sejam válidas e, principalmente, eficazes. Por último, serão admiradas as minhas muitas qualidades pessoais, como a beleza, a esperteza, a argúcia, a doçura, a candura, a honestidade moral, a fidelidade, a pureza de pensamentos, o sentido de justiça, a sinceridade, sem falar na modéstia.”
Durval Noronha descreve a obra como um exercício criativo. “Sou muito conhecido pelas minhas obras técnicas, acadêmicas e, até agora, eu só havia escrito ficção em contos e pequenas histórias. Shanghai Lilly é minha primeira obra literária, fora de minha zona de conforto, adicionando-se aí o desafio de escrever como um personagem feminino.”