O Homem e a Legenda, Prof. Dr. Hugo João Felipozzi

Artigo distribuído por ocasião da celebração da missa de 7º dia do falecimento do Dr. Hugo João Felippozzi, na Capela da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, SP, Brasil, 12 de novembro de 2004.

O Prof. Dr. Hugo João Felipozzi foi natural de Cajuru, Estado de São Paulo, filho de família de imigrantes italianos. Quando criança, morou por alguns anos em Cuneo, no Piemonte. Formou-se em Medicina na Faculdade Paulista, em São Paulo, tendo estudado e trabalhado no Medical College and Hospital, Baltimore, Mayo Clinic, Stanford Hospital, Georgetown University e Harvard University, nos Estados Unidos da América, na década de 50. Foi professor catedrático na Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e na Faculdade Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Além do português, falava fluentemente o inglês e o italiano.

Regressando ao Brasil, realizou, em novembro de 1956, a primeira operação de cirurgia com circulação extra-corpórea na América Latina, fundando assim a cirurgia cardíaca no continente. Foi, por decorrência, aclamado, nas palavras do Prof. Otoni Moreira Gomes, “o pai da cirurgia cardíaca brasileira”. Para que pudesse promover a circulação cardíaca extra-corpórea, o Prof. Dr. Felipozzi inventou uma máquina coração pulmão artificial, produzida no Brasil com a ajuda de um mecânico brasileiro, Victorio Landolfi. Recusou-se a patentear este seu invento, como os demais, já que desejava fossem eles de uso corrente para uso humanitário.

Inventou também o primeiro marca-passo cardíaco na América Latina, bem como a primeira prótese cardiológica. Foi pioneiro ainda no primeiro transplante de válvula aórtica humana, o introdutor da autotransfusão intra-operatória e foi nada menos do que o criador da Unidade de Terapia Intensiva, a UTI. Divulgou o Prof. Dr. Felipozzi suas invenções, bem como ensinou suas técnicas e inovações a todos quantos por ela se interessaram, no Brasil e no exterior, para onde inclusive levava seus inventos. Foi apoiado em sua atividade científica pela Fundação Anita Pastore D’Angelo.

O Dr. Felipozzi operou até os 70 anos, tendo realizado mais de 10 mil cirurgias cardíacas, o que representa uma média de mais de uma por dia durante 40 anos. Dedicou sua vida ao atendimento médico e à atividade científica. Com toda sua autoridade, tinha a modéstia dos grandes homens e era avesso tanto à publicidade desmesurada quanto aos riscos impossíveis. Transmitia a seus pacientes e respectivas famílias uma segurança e tranqüilidade que a todos confortava. Era atencioso com todos os colegas e discípulos e, com nobreza de espírito, considerava o apoio humano ao paciente e sua família como uma parte essencial de sua atividade, despendendo horas a fio neste mister.

Para sua vida particular, levava todos esses atributos de grande homem, mais a tolerância, a seriedade pessoal, a serenidade e uma grande dedicação amorosa a todos que o cercavam, no pouco tempo que dispunha. Foi um filho, irmão, marido, genro, cunhado, pai, avô, sogro, sócio e amigo exemplar. Não há amigo que tenha tido um problema qualquer de saúde que não tenha solicitado e obtido o carinhoso acompanhamento do Dr. Felipozzi. Como sócio, seu grupo médico permaneceu intato e funcional por cerca de 53 anos, um caso único! Como genro, dedicou um amor filial aos seus sogros e apoiou o sogro Agostinho Janequine, quando este tornou-se a primeira vítima empresarial do arbítrio da ditadura militar.

Casou-se com Thaís Bandeira de Mello Janequini Felipozzi, com quem teve 4 filhos: Silvio Agostinho, Beatriz Rosália, Thaís Argemira e Eliana Maria. Deixa os netos Anita Felipozzi de Noronha Goyos e Gabriela Felipozzi de Noronha Goyos; Luigi Felipozzi e Pietro Felipozzi; Caio Doria Vasconcelos e Patrick Felipozzi; e Mariana Felipozzi Nader.